Alimentação saudável, hábitos e dieta

1) Introdução sobre quem é a Ana e a sua formação.

Sou formada em Farmácia-Bioquímica pela Universidade de São Paulo. Me especializei em fármacos e medicamentos e fiz pós-graduação em Farmacologia Clínica. Trabalhei por 10 anos para a indústria farmacêutica na área de pesquisa clínica de novos tratamentos. 

Depois deste tempo trabalhando com foco em doenças, resolvi mudar a forma como atuava na área. Foi justamente quando havia acabado de me mudar de Londres para Portugal. Queria focar em saúde, prevenção de doenças, longevidade saudável. Foi aí que fiz o curso de Health Coach no Institute for Integrative Nutrition de NY. Este curso me possibilitou conhecer a Nutrição Funcional, área pela qual me apaixonei e é minha atual área de estudo e trabalho. Me especializei em interpretação de exames de sangue pela visão da medicina funcional, suplementação e fitoterapia. Como atleta amadora, estudo muito também a área de suplementação desportiva.

2) Ana, fala-nos um pouco do teu trabalho, o que é e o que faz um Health Coach?

O Coach de saúde busca entender os objetivos de saúde do seu cliente e busca junto com ele, estratégias para que ele atravesse este processo de mudança de estilo de vida de uma forma ativa e consciente. Muitas vezes acontece um paciente ir ao médico e ouvir: “É preciso mudar de hábitos, seus exames de sangue estão ruins”. Mas como mudar sem ajuda? Sem saber por onde começar? Sem saber o que faz de errado? Muitas vezes o paciente fica perdido. O Health Coach avalia de forma individualizada o ponto de partida do cliente e onde ele quer ou precisa chegar. E oferece ferramentas para esta mudança de comportamento e mentalidade. 

Eu, como tenho formação na área de saúde, além das ferramentas de coaching, consigo fazer uma leitura da bioquímica do paciente, através da interpretação funcional de seu exame de sangue. Desta forma, consigo prescrever vitaminas e suplementos, caso necessário, a fim de equilibrar a saúde do paciente para ser mais um motivador para o processo de mudança definitiva.

3) O que te motivou a escolher essa área?

Minha mãe faleceu de câncer no fígado há 10 anos atrás e desde então busco entender melhor como a alimentação e estilo de vida podem ser gatilhos para muitas doenças. Estudei Bioquímica na Universidade porque queria poder curar as pessoas com medicamentos. Mas depois de me formar e trabalhar na área, percebi que o melhor remédio é a prevenção. E conseguimos isso através da mudança de hábitos, alimentação, equilíbrio nutricional e conhecimento da bioquímica dos exames de sangue.

Depois de ter ajudado clientes a engravidar, controlar diabetes, emagrecer, mudar radicalmente de hábitos, sinto que este é meu propósito de vida: ajudar com meus conhecimentos as pessoas a fazerem as pazes com sua saúde e a honrarem seu corpo e sua natureza.

4) Qual o motivo pelo qual as pessoas te procuram, para melhorar a saúde ou para perder peso?

Atendo pessoas em busca de um maior entendimento com relação à sua saúde.  Seja querendo emagrecer, conceber, lidar melhor com uma autoimunidade ou controlar melhor o Diabetes. Pois com a análise dos exames de sangue consigo colocar uma lente de aumento na saúde do paciente e alertar para possíveis desequilíbrios. 

5) Sabemos que a alimentação tem impacto direto na saúde em geral. Qual é a maior dificuldade das pessoas para se alimentarem de forma saudável?

Falta de tempo. E de mãos dadas com a correria do dia-a-dia as empresas vendem conveniência com refeições prontas, alimentos ultra-processados, fast-food. Desta forma, somos educados que preparar nosso próprio alimento é “perder tempo” e, desta forma, estamos cada vez mais desconectados com nossa natureza.

6) Quais os piores erros que as pessoas cometem na alimentação?

O maior erro é não colocar a alimentação saudável como uma prioridade na nossa vida. Nunca conseguiremos tempo para algo que não é prioritário. 

Outro erro é viciar o paladar em sabores muito doces, afinal quem consegue gostar de comer maçãs depois de comer um pacote de cookies? Temos de aprender a comer para honrar nosso corpo e nossa natureza e não somente para atender às necessidades momentâneas do nosso paladar. Os alimentos mais in natura nos deixam mais saciados e a chance de comermos além do que precisamos é mínima. 

7) Sobre dietas em geral, achas que funciona a longo prazo? 

Dietas não funcionam, o que funciona é uma mudança de mentalidade, da relação da pessoa com o alimento. Acredito também que conhecimento transforma. Quanto mais educo as pessoas sobre a importância de escolher alimentos nutritivos para compor sua alimentação, sobre quais parâmeros bioquímicos estão alterados e quais alimentos melhoram ou pioram isto, mais vejo o esforço para fazerem melhores escolhas alimentares.

8) Muitas dietas incluem o dia em que se pode comer tudo, o que é que tu pensas sobre essa abordagem?

Se a dieta é com o intuito de perder peso, o que vai funcionar ao final dos dias é se houve ou não défice calórico. Mesmo assim, eu não sou a favor desta mentalidade de estipular um dia para poder comer tudo, pois isso pode causar um distúrbio alimentar na pessoa. Comida além de nutrir também está relacionada com nossas emoções, com prazer. Muito melhor comer um Pastel nata partilhando com amigos ou uma fatia de bolo de aniversário numa celebração do que comer porque só se tem aquele dia “livre”.

9) Na tua opinião qual a alimentação ideal para um atleta que treina pelo menos 1 hora todos os dias?

Alimentação ideal depende muito da individualidade de cada pessoa, história de saúde, tipo de treino. Mas o geral que sempre dá certo: alimentos que vêm da terra ou do mar, tudo o mais in natura possível. É importante ter uma alimentação variada e com muitas frutas, que são ricas em antioxidantes, importantes para atletas.

A necessidade de proteína pode variar dependendo da modalidade de treino, mas é importante buscar consumir proteína (animal ou vegetal) em pelo menos 3 refeições / dia. 

Para atletas que treinam nesta intensidade, sugiro uma acompanhamento quantitativo individualizado com nutricionista.

10) A tua mensagem para os leitores, para motivá-los a cuidar mais da saúde e da alimentação?

A saúde é um daqueles bens que só nos damos conta de seu valor quando estamos prestes a perdê-lo. A qualidade de nossa alimentação está diretamente relacionada à qualidade do material que constitui nossas células. Somos o que comemos, literalmente. Nossa sociedade busca soluções fáceis e rápidas para questões que somente um bom estilo de vida pode trazer. Não existe chá que emagrece, suplemento que te deixa mais rápido ou pílula para fazer a gordura corporal desaparecer. Para a saúde, não existe atalho. O básico é o que funciona: comer bem e atividade física. O problema é que ninguém quer pagar o preço de fazer o básico. Então paga-se o preço com doenças atreladas à má dieta e ao sedentarismo. É uma questão de escolha: qual preço queres pagar?